Chapéu panamá, terno branco, sapato impecável de tão bem engraxado ( longo era o tempo que eu passava com meus sapatos, meus companheiros de andanças ) e o indispensável violão. Várias horas que se passavam tão rápido, do samba à Bossa nova e MPB era um baile aparte, belas mulheres, bebida à vontade ( graças a meu falecido amigo Silvio "Nego" ) e nosso bom som e as vezes pra quebrar um pouco o sistema, tocávamos um blues. Mas foi em umas dessas grandiosas noites que conheci Carola ou Mulata como todos a chamavam, ah sim... isso era mulher, daquelas que param a Avenida Paulista. Não vou dizer que foi "amor a primeira vista", foi mais uma "paixão a primeira vista", e ela passou com tanta graciosamente que metade da roda comeu ela com os olhos. Foi glorioso, logo após meu turno ( em nosso grupo, cada um tinha seu turno pra fazer musica para o povo ) fui falar com a tal Mulata. Só de olhar já ficava arrepiado, a Mulata de vestido curto que só de olhar já deixava o homem louco, mas era bela como nenhuma outra ( e de tantas mulheres que já vi, ainda acho ela a mais bela de todas ), mas reuni o maximo de confiança pra chegar com tranquilidade. Cheguei falando: - Olha que bela morena, posso saber seu nome?- .- Sou Carola, mas pode me chamar de Mulata se quiser- disse ela - Mulata... tem namorado? Pois afinal hoje em dia mulher do seu nível ou tem namorado ou é casada.- disse eu com uma cara de malandro que até hoje me envergonho - Não, nem um nem outro, sou solteira, e no momento estou desinteressada para qualquer conversa com musico de bar.- dizendo ela com uma total cara de falta de interesse na conversa - Mas se a conversa não lhe agrada, quem sabe uma musica - eu disse - Que tal, Garota de Ipanema? - perguntei - Bem se faz tanta questão. - disse ela com um sorriso simples no canto da boca - Mas é claro! - e ai comecei, toquei a canção com a maior perfeição possível, foi incrível até eu me impressionei. No final da noite após muita conversa e muitas canções com a Mulata, nos beijamos e admito que aquele foi sem duvida o melhor de todos. Logo já estavamos deitados na minha cama, num sentimento totalmente sedutor, tal como a Carola. Definitivamente aquela foi a melhor noite de todas. Mas como de costume na vida boemia paulista, quando se dorme a noite com uma mulher, acorda sozinho na manhã seguinte. Triste fim de história... a partir daquele dia passava todas as noites no bar de olhos atentos, atrás da Mulata, mas nunca a vi novamente. Por isso agora velho e experiente no ramo, frequento o mesmo bar, com o mesmo chapéu panamá e o mesmo terno branco e o sapato engraxado, mas dessa vez é outra Mulata, e essa Mulata que agora é minha filha, vai ser a Mulata de outra noite de outro musico, de outro homem. Pois é assim que é, é assim que acontece ( e sempre será ). Mas de tantas Mulatas, tantas Carolas, tantas noites, só uma me valeu a pena... por que?
Bem, esta ai resposta pra outra história, agora garçom, me traz uma cerveja.
Bem, esta ai resposta pra outra história, agora garçom, me traz uma cerveja.